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log entry: meu pai

Os dias parecem correr lentos no paradoxo da vertigem do tempo
Dele se resgatam vidas
Delas se guardam memórias
Que se guardam no peito em frascos fundos
Algumas em embalagem especial
Incorruptas e sem prazo de validade
Longe dos olhos do tempo
Longe das mãos do esquecimento
Abertas periodicamente para adequada manutenção
Em desafio à irreversibilidade sequencial do tempo
Desfrutando da maior herança
Fruto de inevitável descendência

Hoje parei o tempo
Silenciei o vento
Abri uma tampa
Lá dentro está tudo o que te faz a ti
Dentro de mim
Meu Pai

Lá dentro está a imaginação
O calor da música
As cores do talento
A sabedoria dos anos
A pureza de um adulto
O picar da barba no momento do reencontro
O calor cheio da planície alentejana
Um olhar mudo de sentimento
Palavras que se transformam em cor
Passados que te fizeram quem és
Traços que desenharam um mundo

Lá dentro estão caminhos traçados e outros por traçar
Estão os sons de uma guitarra sob um céu ornado de estrelas
Está um fumo azul fumado
Está a cinza de universos esquecidos
Está um sorriso que desvenda uma criança
Está a seriedade silenciosa de um carácter grave
Está o insólito em forma de gesto
Está o carinho
A intensidade
E a paixão

Lá dentro estás tu
Lá dentro fiz-me eu






Comentários

marta ré disse…
A surpresa intensa de uma mensagem repleta de tudo!

As palavras ajudam a reencontrar sentimentos e a florescer encontros.

Ternos são os momentos que se fizeram permanecer no tempo...

Beijo meu
Anónimo disse…
tens saudadinhas do papá não é meu pequenino?... Já falta pouco para as liquidar.

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