As pessoas têm uma relação estranha com o dinheiro. Tudo gira à volta do pilim. Ele é preciso para pôr na mesa a comidinha, para comprar roupinha pró menino, para pagar a prestação da casa e do carro e da televisão e da assinatura da tv cabo e o lar dos avós. A malta recebe ao fim do mês, o tal salário, que é o resultado do trabalho traduzido num número no extracto em papel, mas não sabem de onde vem. Sabem que, se quiserem, podem ir ao banco levantar tudo, e que as notas que recolhem foram impressas e agrupadas em molhinhos com elástico por ordem de valor, como se vê nas malas dos bandidos nos filmes.
Mas de onde vem o guito, a cheta, a massa, o chavo, o caroço, os cobres, a pataca, o vintém, o tostão, a pasta, o pilim, o cacau, o papel, o carcanhol, o arame? Quem inventou a coisa? Eu percebo que é mais fácil do que andar com os bolsos cheios de batatas para trocar por tabaco na esquina. Até porque ao preço a que o maço está, tinham de andar com troleis de batata e sacos delas a tiracol.
Alguém um dia disse que a batata vale um tanto em notas, portanto quer dizer que o valor das coisas encontra o seu significado no dinheiro. Mas o dinheiro em si não vale nada. Esse é uma invenção de uns tipos que atribuem o valor ao dinheiro, até porque não existe tanto dinheiro físico como o que é transaccionado. É uma ideia estranha, se pensarmos nisto como um bordel, que é onde supostamente existe maior manancial de dinheiro físico que é transaccionado. Uma Mádáme dona de um estabelecimento, diz que tem para oferta dezassete meninas com mais de dezoito anos e com imenso valor, mas na realidade só tem três e uma delas já foi outrora um homem. Ao tipo que lhe tenha saído na rifa ficar com esta última, fica-lhe um amargo de boca na boca, uma insatisfação e um desejo de ter podido ficar com uma das outras dezasseis. Mas que, afinal de contas, não existem. Desculpem, eu sei, não foi bom exemplo.
Outra coisa engraçada, é que as pessoas querem dinheiro para poder comprar coisas, sem perceber que as coisas é que são o valor e não o intermediário que é a nota. Portanto não dá para comprar dinheiro. Isto para explicar que quem tem muito dinheiro não é rico. Tem apenas muito dinheiro.
Eu cá acredito, de uma forma que não consigo explicar, que a origem do dinheiro deve ter algo que ver com a máfia. Senão vejamos: em todos os países onde a máfia é coisa tradicional como o folclore, como a Itália ou China, se come muita massa e massinha. Posto isto, conclui-se que a massa, ou pasta, é mesmo uma invenção italiana, essa sim de indubitável valor.
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