Citemos Marco Paulo, em recente entrevista a uma revista popular: «O pimba veio abandalhar a música». Surpreendente afirmação, vinda de quem vem. Dir-se-á: mas quem é Marco Paulo para dizer semelhante coisa, ele que é o sumo pontíficie do pimba? Pois Marco Paulo disse-o precisamente por ser o sumo pontíficie do pimba, tal como Eurico de Melo é a reserva moral do PSD. Estranhos tempos, estes em que vivemos. Na recente história da música popular portuguesa, Marco Paulo é um nome que se cumpriu, e cumpriu-se à custa de um cioso jogo de cintura, inimitável mas canónico, distante mas tão próximo, primário mas harmonioso. A sua história é heróica: vindo do Portugal profundo, subiu aos holofotes, foi romântico enquanto era preciso ser romântico (uma espécie de Tony de Matos das donas-de-casa dos anos 80), Herman consagrou-o (Serafim é nome de anjo e Saudade é nome de sentimento), a televisão deu-lhe um espaço nobre, Marco em si condensou uma luta cancerosa comum a tantos que nos s...