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Mensagens

Memórias silvestres

na noite dos corpos esclarecidos e do pensamento turvo o confronto entre a pele e o intangível o verso da pele guarda as memórias sensíveis da superfície a imaginação constroí o que falta às memórias que revivem os contornos se o corpo o desejo e a insatisfação são claras a razão essa esconde-se no silêncio nocturno entre as amoras em sombra e memórias silvestres.

A pele do avesso

entre tanto a noite o interior do corpo e a pele do avesso o desconhecido acordado a braços com as palavras a desconhecida adormecida nos braços do sonho entre tanto tão pouco ainda aquando do começo imaginado nas mãos poisado no fundo do mar antecipado no interior das pálpebras onde te encontro.

O dia aflito

aquele que esbraceja é o dia náufrago que procura salvação do bater do tempo pedindo socorro na rebentação do caos. nestas horas  não há poema que acuda o dia muito cheio como maré. do dia morto engolido pelas ondas dá à costa o corpo falecido. 

Distância

A distância que separa o tempo das memórias que fazem os dias dos intervalos do desejo de um espaço dilatado das imagens claras das realidades perdidas do tempo que nos separa

STUPID OR NOT KIND OF MANIFESTO #01

Look good. Stop worrying just on looking good. Start being good. Being intelligent makes you beautiful. Being intelligent makes you sadder. Don’t joke on bodybuilders in public. Fast food makes you die slowly. If you live like there’s no tomorrow there will probably be none. Don’t let your wrinkles spoil your youth. Trust in strangers until otherwise. Don’t trust in strangers with knifes. Know more about yourself than you know about socialites. Start. Stop. Avoid mistakes. Learn from errors. Clichés exist for a reason. Writing a manifesto makes you feel powerful. It isn’t always the butler. Don’t kill the butterflies. Kill the butter. Fly. Stupid or not Francisco Salgado Ré 02 of May, 2014

TEATRO DE SOMBRAS

Há uma outra cidade revelada pela noite e descoberta por corpos ausentes e silêncios quebrados. As ruas são o cenário de encenações turvas e o chão é palco pisado pelos passos cambaleantes de actores que levam a cena peças efémeras de um só acto. A noite encerra ciclicamente um ritual pagão de personagens anónimas que se mascaram com vestes brilhantes e se pintam com cores que disfarçam os corpos. As personagens nocturnas têm medo do escuro e fogem por isso da sombra que as oculta. Não sabem contudo que são transparentes à luz. No fim da noite as marionetas deste teatro de sombras vão repousar inanimadas nas soleiras ou desaparecer no escuro levadas por cordéis finos presos às estrelas.

FALSO ALARME

Certa vez fui atendido por um médico espanhol no hospital de St. António. Não me deu croissants... E eu bem que pedi (para ser operado tinha de estar em jejum). Afinal nao foram precisos os croissants. Falso alarme. Não era apendicite. Fui comer uma francesinha depois.

MEMÓRIA DAS COISAS

Disse que eram apenas coisas. Na altura quis acreditar que sim. Um pouco sem pensar. Como quem toma uma aspirina. Hoje sei que as coisas são apenas coisas até deixarem de o ser. Até serem envolvidas em nostalgia e trazidas pelas memórias. Os objectos são uma coisa apenas até determinado momento. São apenas objectos quando são apartidários de qualquer acontecimento relevante. Quando a sua existência simples de coisas inócuas não se cruza com os momentos. Assim, a determinado momento, tornam-se parte do corpo, carregados de historias resultantes da partilha dos dias. A convivência com os objectos faz-se muitas vezes inconscientemente, até que a certo ponto eles são o veículo que nos desperta para memórias particulares e nos fazem lembrar momentos especiais e detalhes que, no seu momento, poderão até ter sido considerados irrelevantes. Que fique claro que esta não é uma capacidade dos objectos. Eles não são assim por vontade própria. São as pessoas que tornam os objectos coisas do co

INSATISFAÇÃO

Se está frio é porque está frio. Se está calor é porque está calor. Se é Verão é porque é Verão. Se é Inverno é porque é Inverno. A Primavera é porque não houve. O Outono é porque não. Se já não é o que era é porque antigamente é que era bom. Se antigamente era mau agora não é suficiente. Se está sozinho é porque está sozinho. Se está gente é gente a mais. Se o governo é de direita é porque é capitalista. Se o governo é de esquerda é porque é radical. Se não há dinheiro é porque é da crise. Se há dinheiro é porque não. Se não há trabalho é porque não há. Se há é porque é uma canseira. Se há rojões é porque quer bifanas. Se há bifanas é porque estão insossas . Se se vai andando é porque assim-assim. E a família é porque a sogra e os filhos e os domingos e tal. O tempo é o maior democrata. O tempo tem muita paciência. Há-de chegar o tempo…

UM BURAQUINHO NO MARVÃO

Hoje, algures num terreno no Marvão, aconteceu um fenómeno geológico onde se abriu uma cratera com 30, mais de 50 ou 100 metros de profundidade, conforme os telejornais que se escolha ver. De qualquer forma, não há dúvidas que é um grande buraco. Um geólogo veio tentar explicar que é por causa de água nos solos. Eu cá acho que não. E tenho várias hipóteses. Não me ocorreu no entanto que fosse obra de extra terrestres, como o geólogo também quis fazer questão de referir. Acho estranho que tenha sentido necessidade de explicar que não foi um ser de outro planeta que após ter viajado através de galáxias à velocidade da luz tenha decidido cavar um buraco com 30, 50 ou 100 metros de profundidade a meio da noite no meio do Marvão. Eu cá estou indeciso entre várias hipóteses. No entanto sou levado a suspeitar que em todas a economia foi, de uma forma ou de outra, a grande responsável. Parece-me que é o próprio solo nacional a manifestar-se e a concretizar fisicamente o buraco em que esta

EFEMÉRIDES

Algumas notas sobre a actualidade do inicio deste mês de Março do ano de dois mil e treze depois de Cristo. A primeira vai para o falecimento do carismático ditador Hugo Chavez, que ditou os destinos da Venezuela mais anos do que muita gente vive numa vida. Uma espécie de brutamontes estilo Alberto João Jardim lá do sitio, mas com muito mais sotaque. No entanto, quem ele era, o que fez ou deixou de fazer não vem para o caso. O homem morreu com cancro, que é coisa com que não se brinca. No entanto, os seus leais seguidores acham que o eterno inimigo, vulgo Estados Unidos da outra América que não a do Sul, finalmente conseguiram, fruto de uma conspiração prolongada, matar o homem. Longe vão os tempos de cartas envenenadas, cianetos, espias em lingerie e charutos explosivos. Agora também se manda matar com doenças potencialmente fatais. Portanto, fica registado que ele não morreu com cancro. Ele foi assassinado com cancro. Outro brutamontes é um senhor chamado antónio borges. Escrevo

Coisas que inbernam

Pelo que percebi, há uma panóplia de animais que hibernam mas a coisa não é linear como eu pensava. Eu imaginava que eram os ursos e as raposas que ficavam quietinhos a nanar nas suas tocas durante longos meses de inverno. Mas, claro está, a natureza é coisa complexa e tratou de fazer com que muitos mais animais hibernassem, em alturas diferentes e por distintas razões que ela e eles lá sabem. Por exemplo, há animais de sangue quente e de sangue frio a hibernar. Há deles que hibernam por causa do frio, outros por causa da escassez de alimento e outros para se esconderem de predadores. Curioso que os ursos têm uma hibernação falsa, pois são letárgicos e levantam-se para papar. Eles há os que dormem meses a fio e outros que se levantam para comer uma refeição leve, beber um golinho de água, evacuar tudo e voltar para a toca. Ele há cobras, lagartos, rãs, ouriços, morcegos, texugos, andorinhas, ursos, gambás, tartarugas, doninhas, castores, ratos, cágados, joaninhas, esquilos, marmot

O ESTADO DAS COISAS II (apontamentos para a posteridade)

Por pontos: 01/ Neste Ano da Graça de 2012 a República faz 102 anos. 02/ Ao que parece, 2012 é também o último ano em que esse dia é celebrado com um feriado nacional. 03/ As cerimónias oficiais, que em 102 anos de história foram partilhadas com o povo em praça pública, foram agora celebradas em lugar fechado envolto num cordão policial. 04/ Este ano de 2012 calha de ser um ano em que o povo tem usado da sua voz e direitos democráticos para manifestar a sua insatisfação. O povo falou alto mas é sereno. No entanto os Srs. que organizaram as cerimónias levaram a coisa para longe do mesmo povo que representa a República, ao que parece motivados por medo de apanharem tau-tau. 05/ Deve-se também dizer que o representante máximo do estado, eleito pelo povo, resolveu ir de viagem à Eslováquia, numa visita de inquestionável relevância, não estando assim presente nas cerimónias oficiais. Não é de estranhar a sua posição perante a data, já que a ideia de acabar com a celebração

O ESTADO DAS COISAS

Diz-se que a esperança é a ultima a morrer. Agora sabe-se que a esperança morreu por estes dias. Deu na televisão antes de um jogo de futebol. Era já pouca, comedida, medida, porcionada e apenas utilizada por não haver alternativa, como uso de recurso. A esperança é o paliativo dos Portugueses. Verdade seja dita que, por eterna e incontornável má fortuna, este povo dela e com ela sempre viveu. É uma espécie de valor idiossincrático, precioso e utilizado em permanência. Vidas em dependência permanente deste último recurso imaterial que, ao não alimentar, sossega o espírito. É curiosamente um tipo de esperança na qual não é possível acreditar verdadeiramente, mas tê-la é bem melhor do que não ter. É coisa que apazigua a dor mas que não cura a maleita. Desde sempre, ou pelo menos desde que me lembro e do que me contam, me pareceu uma espécie rara de esperança. Uma esperança sem esperança dentro, como uma matrioska ao contrário. A nossa é ela própria hipotecada pelas condições fatídica

animais a cavalo

Há coisas sobre as quais eu sei pouco e sobre as mesmas pouco quero saber. Entre elas está a coisa da festa brava. Se por acaso calha de apanhar a dar na televisão sou rápido a mudar de canal e a procurar outro programa com bichos menos ens anguentados. Admito que sou ateu em relação a esta matéria. Primeiro porque não acredito naquilo. Em vários níveis de descrença. Um dos quais passa por achar que ninguém no seu prefeito juízo faria tal cena. Só pode ser montagem. Outro é de que não vou à missa deles. Também acho as roupinhas larilas. Quem enfrenta um touro não devia ter um ar tão ridículo. Não percebo como se pode qualificar de festa, mas que é brava lá isso é. É brava num sentido pagão e bolorento. Não me admirava nada, pelo tipo de discurso e argumentário, que os senhores da festa brava achem que o sol anda todos os dias às voltinhas da terra, que existem bruxas para queimar, que Newton é uma marca de detergente, que os preservativos são giros é para fazer balões de água e que a

You have 5 seconds to tell me the name of the 2012 Pritzker prized architect

You have Pritzkers and you have... Pretzels. You have Jewish Pretzel and you have Chinese Pritzker. No obvious relation here, but then again, this certainly won´t be an obvious line of thought. Pretzel is Jewish food, and Pritzker is a prized architect. The last pritzker on the table is Chinese and the last pretzel on the table is still Jewish. No relation there either... But, sometimes, Jewish related business is often political, and, in a wild assumption, architecture is political too. Or perhaps, for the sake of political correctness argument: architecture is often  politicized ... Another big difference is that Pretzels are largely known around the globe. The last Chinese awarded with the Pritzker prize is not. Every architect I know, and I know allot of them, didn’t had a clue who the hell is Wang Shu. This can mean one of two things: or this guy was dough from a whole by political reasons, or it tells something about the poor quality of my friends and their lack of general

gaiola

As memórias são como os pássaros. Chegam batidas ao vento. Que batem asas e vão. Que adormecem entre nuvens. Como em gaiolas abertas. Que cantam ao ouvido. E poisam no silêncio. Por vezes dá pena. Algumas vão sem voltar. Mas há gaiolas com tempo dentro, lá guardado para recordar.

log entry: estetoscópios

Imaginem-me sentado na soleira de uma montra de uma loja fora do horário de expediente, quando surge um grupo de rapazolas novos que em notório entusiasmo comentam os artigos em expressões rotundas como, olha aquele que espectacular, aquele é lindo pá!, eu comprei o quinto a contar da esquerda, tás a ver? E eu, curioso, porque não tinha reparado o que vendia a loja, olhei para trás, sobre o ombro e, pasme-se: estetoscópios! Comprei o quinto da esquerda? Aquele é lindo e espectacular pá? Mas não são carros. Não são telemóveis. Não são televisões. O que fazem três moçoilos novos, de olhos a brilhar, a cavacar sobre estetoscópios às duas da madrugada? O meu leque de amigos - bem escasso diga-se, pois parece-se mais um abanador de brincar que um leque valenciano – é bastante eclético e nunca, mas nunca, assisti a uma conversa do género. E nem quero. Caraças, os meus amigos às duas da manhã são muito machos! Mas aqueles não estavam a brincar, estavam mesmo vidrados com a espectacularida

log entry: de onde vêm o dinheiro?

As pessoas têm uma relação estranha com o dinheiro. Tudo gira à volta do pilim. Ele é preciso para pôr na mesa a comidinha, para comprar roupinha pró menino, para pagar a prestação da casa e do carro e da televisão e da assinatura da tv cabo e o lar dos avós. A malta recebe ao fim do mês, o tal salário, que é o resultado do trabalho traduzido num número no extracto em papel, mas não sabem de onde vem. Sabem que, se quiserem, podem ir ao banco levantar tudo, e que as notas que recolhem foram impressas e agrupadas em molhinhos com elástico por ordem de valor, como se vê nas malas dos bandidos nos filmes. Mas de onde vem o guito, a cheta, a massa, o chavo, o caroço, os cobres, a pataca, o vintém, o tostão, a pasta, o pilim, o cacau, o papel, o carcanhol, o arame? Quem inventou a coisa? Eu percebo que é mais fácil do que andar com os bolsos cheios de batatas para trocar por tabaco na esquina. Até porque ao preço a que o maço está, tinham de andar com troleis de batata e sacos delas a tir

LOG ENTRY: ESCUTEIROS

Entre muitas coisas esta é uma delas. Não me interpretem mal, não tenho nada contra . Pessoalmente nada. Nunca me atiraram pedras , bíblias, guitarras ou ofensas verbais. Nada, mas mesmo nada, que se lhes pegue em termos morais. Perfeitinhos que até chateia. Tenho mesmo de admitir, a honestidade intelectual a tal me obriga, que lhes agradeço a mediana sapiência que possuo em fazer nós esquisitos, que não dão jeito nenhum no dia-a-dia, mas que servem para impressionar quando raramente vem a propósito . Portanto, a pós ponderada e meditat iva introspecção , po sso apenas concluir que o que move estas palavras poderá ser tão-somente pura maldade. Essa que talvez se esconda no meu ser imperfeito. É possível, não sou escuteiro . Se Deus castiga como dizem, e se não tiver mais nada que fazer, então irá certamente castigar-me por este texto. Acho que esta borbulha que me apareceu na testa já é obra Dele. Mas arrisco , destemido, a continuar. Não compreendo e já tentei

ALÔ DEUS

Alô? Deus? És tu? Estou a responder aos teus SMS... Mandaste quatro iguais pá! Dizias lá para me arrepender, mas não tenho feito asneiras e até tenho andado a comer bem. Posso-te tratar por Tu não posso? Ninguém melhor que Tu para estar Tu cá Tu lá. Também dizias para me converter. Era para jpg? Não? Era para me converter à Apple? É que eu já corro macOS no iphone e, para já, não me posso desconverter do windows no pc assim do pé para a mão. Só se me deres uma das tuas, Deus... Se calhar a conversão vai ter de ficar para mais tarde tá? Aguardo um sinal. Pode ser um toque. Até lá, Abraço forte à tua medida.

VÁ VER SE EU LÁ ESTOU

A propósito da convocatória para uma manifestação geral de desagrado, que recebi hoje no meu email, como coisa que se espalha de forma digital que nem vírus. Camaradas, não me deserdem nem me atirem pedras na rua, que este comentário não é uma reacção às motivações do tal repto, mas sim à sua forma e conteúdo. Ora, não me interpretam mal, fica para outro dia, hoje não, não vou comentar aqui as circunstâncias politicas subjacentes, nem as dificuldades sociais e as injustiças do povo. Mas tenho de fazer um alerta ao autor do texto, antes que o email seja reencaminhado um milhão de vezes e depois já não seja possível retratar a coisa. Meus amigos, camaradas e tal, tenham lá calma com o entusiasmo das Primaveras Árabes. Acho que a CNN anda a toldar o juízo tão agradavelmente moderado deste país ameno. A minha apreciação tem duas vertentes, uma é arquitectónica e a outra é de amante de palavreado bem escrito em respeito a Camões e a António Aleixo. Portanto: Caro revolucionário desconhecido

log entry: special

ah e tal, "porque uma mulher quer sentir-se especial". pois é, mas para isso é preciso merecer... ah, "because a woman wants to feel that is special". right, but for that you need to deserve it...

log entry: Teoria da Relatividade [a partir do Porto]

Dizem que há apenas meia dúzia de iluminados no mundo que conseguem perceber totalmente a Teoria da Relatividade. Sempre me intrigou porque raio é que esses rapazes - como o Stephen Hawking que é um bacano, mas que fala esquisito - são assim tão à frente para a perceber, mas não conseguem ser claros a explicar à malta? Tipo fazer uma versão de bolso, um resumo, uma coisa assim mais ligeirinha, que se podia chamar talvez “olha, eu sou assim muito esperto, percebi a Teoria da Relatividade e tenho a capacidade de fazer o mais fácil, que é explicar-te isto como se fossem contas de feijões”. Não o fazem e eu sempre pensei que era por puro egoísmo e para poder dizer aos amigos “Ah e tal isto é muito difícil que só eu, o Estevão, o Zé, o Machado, o Zé Machado e mais dois ou três é que percebemos”. Pois tenho a dizer-vos, não é preciso ser-se muito esperto para perceber a Teoria da Relatividade. É sim preciso ter-se sorte e eu tive. Acordei há pouco a meio da noite em sobressalto e a perceb