Hoje no elevador descobri o seu nome.
No cartão pessoal, que retirou com cuidado
para não soltar os fios da camisola de lã,
estava escrito à màquina Lianor.
Leonor no espelho do elevador vê pelo canto do olho se está
[arranjada.
Ela sabe que por detrás da orelha já não tem uma flor
[selvagem, e por isso
tem espaço para arrumar o seu cabelo com a mão, como se
[o escondesse.
Repara nos seus dedos riscados pela esferográfica que deixou
[arrumada
sobre a secretária. Está bonita na sua insegurança.
Leonor é agora tão verdadeira nessa impureza frágil como
a água canalizada, que escondida na parede do prédio
só é relembrada quando falta na torneira.
Leonor em vez de se colocar a meio do elevador vazio
[prefere pôr-se,
aconchegada a um canto, tal como faz à noite antes de
[adormecer,
de modo a não sentir o resto da cama fria.
João Miguel Queirós
(n.1969)
poetas sem qualidades
Averno
No cartão pessoal, que retirou com cuidado
para não soltar os fios da camisola de lã,
estava escrito à màquina Lianor.
Leonor no espelho do elevador vê pelo canto do olho se está
[arranjada.
Ela sabe que por detrás da orelha já não tem uma flor
[selvagem, e por isso
tem espaço para arrumar o seu cabelo com a mão, como se
[o escondesse.
Repara nos seus dedos riscados pela esferográfica que deixou
[arrumada
sobre a secretária. Está bonita na sua insegurança.
Leonor é agora tão verdadeira nessa impureza frágil como
a água canalizada, que escondida na parede do prédio
só é relembrada quando falta na torneira.
Leonor em vez de se colocar a meio do elevador vazio
[prefere pôr-se,
aconchegada a um canto, tal como faz à noite antes de
[adormecer,
de modo a não sentir o resto da cama fria.
João Miguel Queirós
(n.1969)
poetas sem qualidades
Averno
Comentários
Quantas e quantas Leonores pelos cantos dos elevadores?!...
Grumete